O Projeto

Ciencion - uma partícula elementar

Nascido em 2018 com o apoio para seu desenvolvimento da Pro-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Universidade Federal do ABC (UFABC), este projeto tem como principal objetivo divulgar a ciência para a comunidade em geral por meio de áudios (podcasts) sobre os mais diferentes assuntos. Um aspecto particular deste projeto é o desenvolvimento de roteiros para utilização dos áudios em diferentes etapas do ensino fundamental e médio.

Os temas serão sempre abordados de maneira informal, mas mantendo o rigor científico, e com grande foco nos aspectos humanos do desenvolvimento da Ciência. 

Para isso, um grupo de 6 docentes do quadro efetivo da UFABC e das mais diferentes áreas, dialogarão sobre os mais variados temas entre si ou recebendo convidados.

 

Em que nos fundamentamos

A divulgação científica tem se mostrado como importante meio de aproximar o público leigo do desenvolvimento científico atual e dos avanços gerados pela ciência. Contudo, críticas sobre as limitações no que tange aos modos como a ciência é apresentada por divulgadores e os equívocos acerca dos sentidos que estão sendo tratados nesse tipo de produção cultural promovem afastamentos e desinteresses da sociedade ao que se refere as produções de cientistas e de seus espaços de produção. 

Os resultados gerados por essas apresentações confusas ou falseadas da ciência adentram os contextos escolares e promovem distorções sobre o conhecimento científico e sua aprendizagem. Dessa maneira, a cultura que permeia os professores e estudantes na escola acaba por conduzir a visões distorcidas do fazer científico e por gerar estereótipos dos cientistas que não condizem com a realidade vivenciada dentro dos espaços de produção da ciência. Defende­ se, portanto, que a divulgação científica pode ser um elemento significativo na aprendizagem científica e no engajamento dos estudantes da educação básica quando ela for pensada e produzida em contextos colaborativos entre cientistas, professores da escola básica e alunos de graduação. Isso, pois tais aproximações podem gerar ações práticas que levam em conta as diferentes expectativas e demandas dos mundos vivenciados por esses diferentes atores sociais e promove reflexões sobre as dimensões críticas por meio do exercício de entendimento e respeito ao mundo do outro.

Diferentes autores, de diferentes áreas, vêm se debruçando sobre como é possível que a divulgação científica tenha papel educativo relevante para a educação formal e não formal da sociedade. Indica­-se que diferentes materiais e ações – feiras de ciências, textos, livros, palestras, documentários, exposições ­ possuem potencialidades para a formação científica dos alunos e daqueles que o consomem. Delicado (2008) aponta em seus estudos a capacidade que exposições podem ter de apresentar a ciência em seus aspectos mais técnicos em, no entanto, perder o papel de instruir e refletir criticamente, mostrando os espaços de atuação dos cientistas e os caminhos trilhados para a formação do mesmo. Para Massarani e Moreira (2008) a mídia demonstra sua capacidade de promover percepções sobre o mundo científico, mas, contudo, outros aspectos normativos como os adquiridos no contexto escolar e social familiar, por exemplo, também podem conduzir a reflexões e percepções distintas sobre a ciência. 

E partimos

Partindo desse pressuposto, nesse projeto pretende­-se construir aproximações entre cientistas e sociedade por meio de práticas de divulgação científica. Em especial, a elaboração de podcasts cujo objetivo é promover debates entre diferentes pesquisadores associados as áreas das ciências (física, química, biologia e correlatas) de modo a apresentar os saberes atuais da ciência e como eles se articulam com os problemas sociais que cercam a vida cotidiana. Tal aproximação torna­-se relevante, ainda, por diferentes intelectuais apontarem para a necessidade de construir estratégias de divulgação científica que sejam integradas ao mundo vivido da população. Assim, se reconhece que o papel dos cientistas como interlocutores desse processo é peça fundamental para o desenvolvimento de ações que possam promover o interesse de estudantes e público geral pelo conhecimento científico (STILGOE, LOCK & ILDSON, 2014; GILBERT, 2008; LÉVY­LEBLOND, 2004; OLIVERA, 2003). Partindo de tal prática, ainda, reconhece­-se que a construção da cultura científica deve ser iniciada e fortalecida na educação formal. Temáticas dessa natureza podem ser encontradas em documentos como a Base Nacional Comum Curricular BNCC) Analisar situações ­problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecno­logias digitais de informação comunicação (TDIC). (BRASIL, 2018, p. 565) Assim, se propõe que para além da escuta atenta aos materiais produzidos, roteiros para sala de aula podem ser importantes meios de articulação entre o que é abordado e o que pode ser tratado no contexto da escola básica. Articulando, portanto, a produção dos podcasts com a disponibilização de roteiro educacionais que dialoguem com as demandas da escola, em especial, do currículo de ciências.

Podcast, mas com um pouco mais de palavras

O presente projeto tratará a perspectiva da pesquisa-­ação como modalidade socialmente crítica. Desse modo, trabalhar­-se-­á para mudar e contornar limitações da realidade vivenciada pelos professores, estudantes e cientistas de modo a promover a visão crítica sobre a construção de ações práticas no âmbito da divulgação científica. Para Franco (2005), por tais características da pesquisa­-ação e seus princípios geradores pode­-se compreender como uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurando como ação que “cientificiza” a prática educativa (FRANCO, 2005, p. 489) de modo a promover a formação de todos os sujeitos da prática. Para essa autora, a pesquisa-­ação pode ser um importante instrumento de formação do pesquisador e pesquisado, construindo modos de atuação que possam correlacionar com a reflexão da situação vivenciada (FRANCO, 2012). Nessa perspectiva, espera­se que a realização da pesquisa­ação se constitua em um processo por meio do qual os participantes possam desenvolver um estilo de questionamento crítico sobre suas práticas, visando transformá-­las (FRANCO & ISITA, 2012, p. 52). No que tange as etapas da pesquisa, apesar de não seguir uma linearidade, devem estar presentes no processo de construção do problema: construção da dinâmica coletiva, ressignificação das espirais cíclicas, produção e socialização do conhecimento, avaliação das práticas e conscientização das novas dinâmicas (FRANCO, 2012). A construção da dinâmica coletiva busca, por meio da cultura de cooperação, trazer tona aos pesquisados a importância da ajuda mútua entre todos para o melhor desenvolvimento das ações de pesquisa. Nesse sentido, atividades que busquem conhecer os agentes analisados e convergir objetivos utilizando o debate para a melhoria e comprometimento com a escola é o foco principal dessa fase. Pretende-­se, com isso, proceder a uma análise em profundidade dos dados obtidos, buscando, por sua vez, construir uma percepção sobre as limitações e potencialidades das atividades de divulgar no processo de aquisição da cultura científica.

Referências

ref